"Não é bom que o homem esteja sozinho.
Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante." - (Gn 2, 18)
Por onde passo ouço frases com: "estou carente; sinto-me fragilizado; a carência é ruim; necessito de alguém aqui comigo; não sei viver sozinho..." Essas frases indicam-nos um apelo, uma necessidade. Os jovens, sobretudo, usam-nas para mostrar-me a carência que sentem. Para eles, o estado de carência é o de solidão.
Motivado pelas indagações de Cristina Aquino e Lícia França - ambras de Paraú/RN - busquei entender o sentimento de carência. Será que o fato de viver sozinho implica em sentir-se carente? E o que é viver sozinho? será que no período em que não namoramos estamos carentes e sozinhos? Ou ainda, quais os momentos propícios para a carência? São inúmeras as indagações acerca do assunto, tornando-o amplo e delicado, pois todos julgam, em dado momento, sertir-se carente, embora, às vezes, haja simplesmente dúvidas em suas emoções e sentimentos. Mas a carência não seria dúvidas sentimentais?
Entendamos como carência a ausência de Deus, e como carente, segundo Catherine Bensaid, psiquiatra, "o ser abandonado pelo amor e pela vida", aquele que não encontra motivações para crescer, que sente espinhos até mesmo nas pétalas das flores mais suaves. Nesses seres habita a carência. Esta, por sua vez, limita-nos ao estado de inércia e decomposição afetiva, não permitindo que o "eu" seja mais forte do que os pensamentos pessimistas de nossas mentes isoladas de tudo e todos. A carência, portanto, passa por nosso isolamento da sociedade, de Deus e, especialmente das lutas que mantêm nossos ideais ardentes. Precisamos de alguém que nos mantenha vivos e não em estado vegetativo, de algo que nos motive a levantar-nos ao cairmos. Como disse o pensador Oscar Wilde: "viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." Assim, a carência nos rebaixa a existência, tirando-nos da vida.
Quando Deus disse que não é bom o homem ficar sozinho, Ele referiu-se a necessidade de o homem relacionar-se, está em comunhão, ou seja, não se isolar, afinal, homens não são ilhas. Deus entendeu que os homens necessitariam de seres semelhantes a si próprios para que fossem plenamente felizes: "não é bom que o homem esteja sozinho." Essas belas palavras bíblicas nos conduzem a uma indagação: é possível sermos felizes sozinhos? Entendendo que a felicidade é o encontro do "eu" com o "tu", como podemos ser felizes sem que alguém nos complete? O que realmente Deus inspirou no coração humano ao dizer: "não é bom que o homem esteja sozinho."? o fato é que o homem é essencialmente carente quando se vir só.
A fim de suprir a carência de homem, Deus lhe dá alguém semelhante, mas que se distinguem quanto ao sexo. Então, Deus completou o homem com a mulher. Ao refletir isso, questiono-mo se é possível alguém ser feliz ao lado de outra pessoa do mesmo sexo. Paulo em sua epístola aos romanos, lembra-nos que o homossexual constrói sua própria condenação (Rm 1, 27). Não estaria ele dizendo que a união de mesmo sexo, tão polemizada ultimamente, é motivo de infelicidade? Pois o homem é para a mullher, como o céu é para as aves. Como explicar, então, os casos homossexuais bem-sucedidos? Será que nestes há a presença plena do amor? Ou simplesmente um sacia as vontades e necessidades supérfluas do outro compondo uma relação e cúplices? E se Deus criou a mulher para o homem, quais as motivações da homossexualidade? Não seria ela falta de amor? E falta de amor gera carência, logo, os homossexuais, são seres naturalmente carentes.
E se deus criou a mulher para o homem, por que os sacerdotes católicos são excluidos do encanto matrimonial? Não estaria a Igreja Católica, tão sábia, limitando-os da plena felicidade, deixando-os vulneráveis a carência? Sabemos que o sacerdote é a imagem "fiel" do Cristo bom-pastor, por isso não se casam. Mas Cristo não foi único? Assim, não seria somente Ele digno e capaz de viver o sublime celibato?
Homem e mulher necessitam-se para completarem-se. Jean-Yves Leloupe, padre ortodoxo, ensina-nos que homem e mulher completam-se reciprocamente: "Ocorre, ás vezes, que a sede encontra a fonte: eis o que designamos como 'experiência de amar'." E entre a sede e a fonte há um terceiro critério para a "experiência de amar": "E o terceiro? É o caminho, o vínculo ou o relacionamento entre esta sede e esta fonte..." Nos relacionamentos amorosos, entendemos que a sede é nosso desejo da amar; a fonte é o "tu", aquele que confiamos estar em nossa companhia; e o encontro, é a "experiência de amar", o namoro:conhecer e deixar-se conhecer.
Refletindo o pensamento de leloupe, a carência é a ausência deste caminho. O encontro de conhecimento (namoro) evita a carência, a solidão e o medo de sermos felizes. Acostumar-se ao relacionamento é uma tentativa frustrante de evitarmos a carência. Muitos casais, até mesmo os de longas datas, não entendem de onde surgem tantas dúvidas em seus relacionamentos, mas se eles vivessem a experiência de um novo encontro, teriam explicações para tais questões.
Por fim, tratemos da carência com muita delicadeza e não deixemos que ela nos limite a um único encontro. Entendamos os motivos de nossas fraquezas para não sermos surpreendidos nas próximas "experiências de amar" que possivelmente teremos.
Rillen Rossy Rocha Reges