Ratinho para o Lula: Xiiii, o Cerra tá ferrado!
Por Igor Felippe
Teve Corinthians, teve histórias sobre rabadas, depoimento de
Ronaldo Fenômeno, música de Geraldo Vandré e até brinde com cerveja
oferecido por Zeca Pagodinho. Mas a entrevista do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao apresentador Ratinho, do SBT, serviu
basicamente para dois objetivos: tentar alavancar a candidatura de
Fernando Haddad junto ao grande público e mandar recados (muitos) para a
oposição.
Descontraído
na maior parte do tempo, Lula subiu o tom, apesar da voz ainda
debilitada, para dizer que não permitirá que “um tucano volte a ser
presidente do Brasil”. Disse que, para isso, aceitaria até voltar a
ser candidato a presidente. “Nisso eu vou batalhar”.
“Xi, o Serra então está ferrado”, brincou Ratinho, que se
apresentou como “grande amigo” do ex-presidente, com quem lembrou já
ter comido uma rabada na Granja do Torto.
E foi no último minuto da entrevista que o apresentador e amigo
perguntou ao ex-presidente sobre a polêmica envolvendo o ministro do
Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que acusa Lula de oferecer
apoio à CPI do Cachoeira em troca do adiamento do mensalão (Mendes é
suspeito de ter viajado a Berlim com dinheiro pago pelo bicheiro
Carlinhos Cachoeira, o que ele nega).
“Vou perguntar apesar de saber que a população não está entendendo isso” — frisou Ratinho.
“Não tenho interesse em falar nesse assunto, porque já respondi
em nota. Quem inventou que prove. Quem acreditou, que prove. O dado
concreto é que o Brasil hoje é muito melhor, vai melhorar ainda mais.
Quero que o Brasil que teve ascensão nunca mais retroceda.”
Fernando Haddad, que estava na primeira fileira da plateia, foi
apresentado ao público logo na primeira pergunta feita por Ratinho.
Sobre o Corinthians. “Esse seu defeito de ser corintiano continua, né,
presidente?”
Na resposta, Lula lembrou que no Brasil existem os corintianos e
os anti-corintianos, mas que se dava bem com torcedores de outros
times, “como o Fernando Haddad, que é são-paulino”.
Não demorou e o ex-ministro da Educação, que patina nas
pesquisas de intenção de voto, já estava do lado do ex-presidente numa
cadeira ao lado da mesa do entrevistador.
Por que ele foi escolhido?, perguntou Ratinho, que chamou Haddad de “galã”.
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Haddad: criou 214 escolas técnicas e 14 universidades federais |
“Achava que era o momento de a gente apresentar uma coisa nova”,
explicou o ex-presidente, para apresentar as credenciais do afilhado:
“São Paulo precisa de um prefeito como o ministro da Educação que criou
o Prouni e colocou um milhão de jovem da periferia na universidade.”
Lula afirmou que Haddad foi o ministro que mais criou escolas
técnicas (214) e mais construiu universidades federais (14).
No mesmo instante, o apresentador chamou um VT sobre o Prouni,
no qual uma beneficiária do programa dizia que, antes, a universidade
não era lugar para pobre.
De terno cinza e camisa branca, sem gravata, Haddad ouviu o
ex-presidente que as mudanças na educação provocara “a maior revolução
que já foi feita no País”.
O entrevistado, então, passou a ser Haddad. “O que um prefeito de
SP pode fazer para melhorar?” — levantou o apresentador.
“A saúde é problema número 1”, cortou o ex-ministro. Ele
criticou a gestão municipal, falou do “drama das filas” e citou a
desarticulação do SUS. “Você injetou recurso novo, mas gestão de
recursos não está tão boa.”
Por fim, citou os investimentos federais em educação (o
orçamento, segundo ele, subiu de 20 bilhões para 80 bilhões de reais) e
disse que os governos Lula e Dilma Rousseff melhoraram a vida
econômica dos brasileiros da porta de casa para dentro, mas fora
faltavam segurança e professores. “Isso é papel do prefeito”.
Foi uma jogada arriscada: Haddad e o PT podem ser punidos caso o
Tribunal Regional Eleitoral entenda que a entrevista serviu como
propaganda antecipada, embora o candidato não tenha pedido voto de
forma direta. A campanha só começa oficialmente em julho.
De volta à cena, Lula fez elogios à presidenta Dilma e criticou
os que o criticam por manterem a amizade. “Não há possibilidade de
divergência entre Dilma e eu. No dia que eu tiver, eu retiro o que
pensei e ela fica.”
Lula disse também que será cabo eleitoral para reelegê-la, e que
só voltaria a se candidatar se ela não quisesse – ainda assim, apenas
para evitar a volta dos tucanos ao poder.
O ex-presidente aproveitou a entrevista para criticar o papel da
oposição para derrubar a CPMF. “Me tiraram 40 bilhões pra aplicar na
saúde, com a intenção de me prejudicar. Foram mais de 120 bilhões no
último mandato. Tínhamos um programa de saúde, queríamos colocar
oftalmologista, dentista e otorrino dentro da escola. A CPMF era
imposto para rico e foi derrubada porque evitava a sonegação” — disse.
Recém-curado de um câncer na laringe, Lula disse que o ideal era
que todos os brasileiros tivessem, como ele, a possibilidade de se
tratar em hospitais como o Sirio-Libanês. “Universalizar a saúde não é
brincadeira. Precisa ter dinheiro”.
Ele citou avanços como a queda da mortalidade e desnutrição e o
aumento de atendimentos a pacientes de câncer pelo SUS. Ainda assim,
garantiu que os avanços são menores que qualquer presidente gostaria de
alcançar.
Houve tempo ainda pra falar sobre o tratamento, os dias
seguintes após deixar a Presidência e de pedir para o apresentador
intermediar um encontro com o pastor Valdemiro Santiago, uma das mais
importantes lideranças evangélicas em São Paulo – que mandou um abraço
ao ex-presidente. “Quero conversar com ele” — disse Lula.
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