Nominuto: Quem é Sávio Hackradt?
Sávio Hackradt: Eu sou natalense, nasci na Rua Trairi, quase na subida do Morro de Mãe Luiza. Morei ali até os 25 anos. Saí de lá quando casei com Dodora Guedes, jornalista e mãe de nossos três filhos. Passei minha infância em Petrópolis. Fiz o primeiro e o segundo ano primário no antigo Colégio 7 de Setembro, que hoje nem existe mais.
Depois fiz o terceiro ano primário no Colégio Marista. De lá saí para a UFRN. Fiz meu primeiro vestibular e passei em Estatística, mas só aguentei três ou quatro meses. No ano seguinte eu fiz Jornalismo, e me formei em 1980. Na UFRN eu me encontro com o PCdoB, através de Glênio Sá [estudante, principal dirigente do partido no RN naqule momento], que tinha acabado de sair da prisão e tinha sofrido muito com a tortura.
Com Glênio, a gente começa a construir o partido. Já na universidade eu fui liderança estudantil, liderei greves, movimentos, passeatas; era plena ditadura naquela época. Então, eu estava na frente dos principais movimentos estudantis da UFRN. Eu já estava na atividade política ali com o PCdoB. O partido era clandestino. A gente passou a atuar nos sindicatos rurais, sindicatos urbanos e fazer política, lutar contra a ditadura, fazer o movimento pela anistia.
Fundamos aqui o Conselho de Direitos Humanos e o Movimento de Mulheres. Tudo isso é da nossa época. Paralelo a isso, já no primeiro ano de faculdade, eu começo a trabalhar no jornalismo na TVU. Depois, no Diário de Natal e, em seguida, sou convidado para a TV Globo Nordeste. Termino meu curso em 1980, mas já em 1978 eu tinha participado da campanha de Radir Pereira ao Senado. Era Radir Pereira (MDB) contra Jessé Freire (Arena), na época da "paz pública".
Em 1982 eu participo já profissionalmente da campanha de Aluízio Alves (PMDB) para o governo contra José Agripino (PDS). Foi a maior derrota da história de Aluízio. Naquela época o voto era vinculado. Fui o primeiro repórter da TV Globo no RN. Aqui só tinha TVU. Canal privado não tinha. Na verdade a implantação da TV privada no RN começa comigo. Depois eu saio e vou para Brasília.
Nominuto: Você foi para Brasília em que ano?
SH: Eu fui morar em Brasília em 1985, que é o ano do início da Nova República. Fui convidado por Aluízio Alves para ser assessor de imprensa no Ministério da Administração do governo Tancredo-Sarney. Quando eu cheguei, Tancredo estava naquela agonia. Sarney assumiu, mas Tancredo ainda estava hospitalizado e só morreu em abril.
Eu vivi um momento fundamental da história política do Brasil. Era a redemocratização do Brasil. Eu estava lá e era a pessoa do ministro. Assisti, presenciei os bastidores, porque aí, como assessor de ministro, a gente circulava dentro dos Ministérios, Palácio do Planalto e Congresso Nacional. Eu convivi muito perto da política nacional, ao lado de um craque da política do RN que era Aluízio Alves. Aprendi muito. Em 1985, vem a primeira eleição direta para prefeito da capital.
Eu vim aqui para ajudar na eleição de Garibaldi contra Wilma. Em 1986, tem eleição direta para governador, já com Geraldo Melo. Eu sou o cara que faço o horário eleitoral de Geraldo Melo, apresentando, fazendo matérias, eu sou o cara que ponho a cara na televisão pelo PMDB. Você veja que a minha vida está sempre ligada à política, desde a universidade. Eu fui também presidente do sindicato, fundei a cooperativa dos jornalistas, sempre tive no meio, sempre disputando voto e ganhando.
Na cooperativa a gente tinha um jornal chamado "Salário Mínimo", que era o único jornal combativo. Todos os outros eram comprometidos. Você tinha a Tribuna do Norte dos Alves, que se não tivesse no governo estaria fazendo oposição. Não tinha jornal independente. Carlos Eduardo Lins e Silva, que virou ombudsman da Folha de São Paulo, foi um dos fundadores do jornal.
Na época ele morava aqui, porque estava ensinando na universidade. Então, o jornal tinha uma combatividade muito grande em Natal. Isso tudo aí, a gente vai caminhando na política. Depois que Geraldo Melo ganha, eu volto para Brasília. Aí vem a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que é o grande momento da vida política nacional. Nós chegamos aqui, mas antes teve a ANC.
Nessa época eu deixei o Ministério da Administração e fui ser repórter da TV Record de São Paulo, que não era da Igreja Universal do Reino de Deus naquela época; era da família Paulo Machado de Carvalho. A TV Cabugi estava começando aqui também. Por isso eu fazia matérias para ela. Então, eu convivi de 1987 até 1988, quando foi promulgada a Constituição, com os maiores ídolos políticos do Brasil todos os dias, todas as semanas.
Eles frequentavam minha casa. Isso me deu uma bagagem de conhecimento político nacional, sobre o funcionamento da Câmara e do Congresso, muito grande. Entre os que frequentavam minha casa, tinha o doutor Ulisses Guimarães, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, por exemplo.
Nominuto: Como nasceu a candidatura logo ao Senado e pelo PCdoB?
SH: A política é uma coisa que corre nas minhas veias. Eu tenho prazer em fazer a política. Então, já convivi em todo tipo de campanha. Por que não ao Senado? Antes de perguntar por que ao Senado, é preciso perguntar por que não ao Senado. Você veja o seguinte: o senador José Agripino começou a carreira política dele logo nomeado prefeito de Natal.
Se ele pode isso, por que um cidadão não pode [se candidatar]? Eu, como qualquer outro cidadão, tenho direito. Eu tenho conhecimento da política, conheço a política do Rio Grande do Norte. Apesar de eu ter ido morar fora, profissionalmente, politicamente, eu nunca saí daqui.
Nominuto: Você voltou em que ano para Natal?
SH: Eu voltei agora. Eu nunca saí daqui porque nunca mudei meu título eleitoral. A minha residência eleitoral sempre foi em Natal. A cada dois anos, eu venho e voto ali no colégio Atheneu.
Nominuto: Qual a motivação para encarar essa candidatura?
SH : O Rio Grande do Norte precisa de alguém que desafie o status quo político. O Rio Grande do Norte precisa de um novo caminho na política. Não é possível que somente esses que estão aí há quase 40 anos no poder, se revezando de cadeira, continuem do mesmo jeito. É preciso modificar isso, é preciso alguém ousar.
O PCdoB entendeu que chegou a hora de ousar. O partido me convidou e eu aceitei o desafio, porque a briga é com gente grande. É ótimo enfrentar grandes desafios. A minha vida foi de enfrentar grandes desafios. Por que não enfrentar três ex-governadores? São duas vagas. Eu preciso de um voto, não preciso de dois.
Nominuto: Com relação às vagas, o PCdoB está na base da governadora Wilma e do presidente Lula. Como o partido está discutindo essa questão das alianças?
SH: O partido está acertado com o seguinte: primeira coisa, o partido está alinhado nacionalmente com o projeto do presidente Lula. O nosso campo político é o campo do presidente Lula. Estamos lá dentro desse campo. Descendo, nós vamos fazer aliança com partidos que estejam nesse campo. Portanto, nós não fazemos aliança com o DEM nem com o PSDB.
As questões locais terão que ser definidas dentro das circunstâncias locais, em cada estado, inclusive no RN. O PCdoB está apresentando a minha candidatura para compor uma das vagas ao Senado. Se nós vamos estar compostos com [a governadora] Wilma de Faria ou não, nesse momento nós não sabemos.
Por exemplo, se o PSB tiver candidato a presidente com [o deputado federal] Ciro Gomes, nós não vamos estar com ele. Vamos estar com [a ministra da Casa Civil] Dilma Rousseff. Então, Wilma vai sair num campo e nós vamos sair em outro aqui.
Nominuto: No arco de alianças da governadora e do PSB, se, por exemplo, entrar outro nome, como o deputado federal João Maia do PR...
SH: Nós não saímos [juntos]. Nós achamos que o campo progressista, popular e democrático do RN tem que ter alguém na disputa majoritária. Não é possível ficar só os conservadores. Nós respeitamos todos eles, João Maia, Iberê, Robinson, todos eles, sem problemas. Agora, nós achamos que esse campo das forças populares e democráticas precisa ter alguém na disputa majoritária.
Nominuto: Se não houver espaço na composição majoritária para as forças de esquerda...
SH: Nós vamos sair. Se o centro do conservadorismo fechar todos os espaços, nós não sairemos juntos. Não é possível isso.
Nominuto: Qual seria a alternativa da esquerda?
SH : Nós vamos apoiar Dilma e o candidato a governador desse campo. [O ex-prefeito de Natal] Carlos Eduardo (PDT) é um dos nomes que está posto. O PCdoB acha que Carlos Eduardo tem que estar nessa discussão majoritária. Ele não pode simplesmente ser descartado.
O vice-governador [Iberê Ferreira de Souza] tem todo o direito de ser o candidato do PSB. Qualquer um que estivesse na cadeira dele seria um candidato. Agora, para se chegar ao governo é preciso conversar sobre isso aí. Para conversar, tem que estar na mesa também a candidatura de Carlos Eduardo.
Nominuto: O senhor não teme o rolo compressor da governadora Wilma de Faria passe por cima e o deixe sozinho nesse pleito rumo ao Senado?
SH: Não, primeiro porque essa é uma decisão do partido aqui e nacionalmente. Nós tivemos uma reunião de mais de três horas, em Brasília, com a direção nacional do partido, onde foi colocada a importância e a prioridade da minha candidatura aqui no Rio Grande do Norte. Isso não é um desejo meu.
Não é o desejo apenas de alguém do PCdoB. É um desejo partidário nacional de que eu seja candidato. Evidente que está na mesa com apoio da direção nacional e estadual. Se alguém não quiser, vai ter que me vetar e dizer por que eu não posso ser candidato.
Nominuto: Em caso de veto à sua candidatura, o senhor disputaria outro cargo?
SH: Não está em nosso horizonte. Nunca discutimos isso.
Nominuto: O senhor acompanha intensamente o cenário político em Brasília e, principalmente, no Congresso Nacional. Qual é o perfil de senador que o parlamento necessita atualmente?
SH: No Senado, criaram essa fantasia de que para ser senador precisava ser governador, precisava ter esse status porque daria mais credibilidade. Então Lula nunca seria presidente. Ele nunca poderia ser candidato.
Se ele foi candidato a presidente da República e não foi governador, por que eu não posso ser senador? O que precisamos é acabar com essas fantasias de que só eles que estão no poder podem ser senadores. Precisamos de um discurso moderno, antenado com o mundo. O mundo mudou e todos têm que ver isso.
Por que o Rio Grande do Norte não vai mudar? Vai permanecer com as mesmas pessoas que estão no poder há quarenta anos? Precisamos de sangue novo, novas ideias conectadas com o mundo, não apenas a questões paroquiais.
Nominuto: Como o marqueteiro Sávio Hackradt pensa em convencer a população sobre essa necessidade de mudança?
SH: Na campanha eu não vou ser o marqueteiro. Vamos ter o marqueteiro (risos). Mas acho que a mudança está posta na sociedade. A população pode até não ter a visão que achamos que temos, pode não ter a elaboração discursiva como a dos políticos, como a minha. Mas a população quer mudar isso que está aí, que está vendo que não está dando certo.
O que é que o Rio Grande do Norte avançou nesses 40 anos, com essa elite? O nosso estado não tem capacidade de investimento. Depende inteiramente de dinheiro dos programas do governo federal e dos empréstimos. Todos os meus adversários passaram por todas as instâncias do governo. É preciso dar um novo caminho. O nosso partido quer dar essa alternativa. É preciso mudar.
Lula foi a mudança para o país, mesmo que muitos não acreditassem. Hoje ele está aí e fez o papel dele. É preciso que tenhamos aqui no estado uma representação fiel da população. Será que a população atualmente se sente representada pelos nossos senadores?
Nominuto: Como o senhor avalia o trabalho desenvolvido pelos senadores José Agripino (DEM) e Garibaldi Filho (PMDB)?
SH - É um trabalho comum aos outros senadores, a mesma coisa. Se retroagirmos aos outros senadores, o que tem de novo?
Nominuto: Garibaldi foi presidente do Senado e Agripino é líder de oposição...
SH: E o que nós avançamos com isso? Houve alguma perspectiva de mudanças? O que Garibaldi fez como presidente do Senado? José Agripino vai completando 24 anos de mandato, mas o que ele faz lá? Oposição raivosa a Lula. É só esse o papel de um senador? Ficar discutindo emendinhas de Orçamento, que não se concretizam, porque todo mundo sabe que é uma ficção?
Nominuto: Qual seria, em sua opinião, o papel de um senador?
SH: Mudar o que está ocorrendo, cobrar que esse Orçamento seja real, impositivo. Ficando desse modo inerte, o que é que se resolve? O Brasil quer um Senado conectado com o mundo. O Senado representa a Federação. Então, as questões do Brasil que precisam ser discutidas não são as questões paroquiais.
O Brasil chegou ao patamar de protagonista das grandes discussões e negociações do mundo. Os nossos senadores precisam estar preparados para isso, discutir o novo mundo que está aí. Se o estado não entrar nisso, vai ficar fora da discussão. Vai ficar preocupado aqui com acordos políticos e "carguinhos".
Nominuto: O senhor não aparece em pesquisas eleitorais e os três principais candidatos, Wilma, Agripino e Garibaldi, disputam entre si a preferência da população neste momento. Como o senhor vai fazer para mudar esse quadro?
SH: Aí eu falo com a experiência das campanhas políticas que já fiz. O processo só começa a se elaborar na cabeça do eleitor a partir de agosto, quando começar a propaganda política na TV. Por enquanto, tem muito "blá, blá, blá". Eu estou chegando agora. Os outros estão aí há quarenta anos, mas não tem nenhum deles seguro. Todos estão com medo da eleição.
Esse processo é lento, é acumulativo, é de convencimento do povo. Vou me apresentar com uma ética, comprometido com os movimentos populares. Vou fazer uma campanha dentro da legislação, sem fugir um milímetro, dentro dos padrões éticos. Vou enfrentar todos no discurso, no campo político. Vamos para o embate. Vou argumentar e contra-argumentar. Eu tenho o que debater.
Querem falar sobre as grandes questões internacionais que o Brasil está inserido? Então vamos debater. Querem debater sobre as questões do Brasil? Vamos debater. Vamos falar sobre como colocar o Rio Grande do Norte no novo caminho que está sendo construído. Ninguém discute isso, mas eu vou cobrar essa discussão.
Nominuto: Como candidato ao Senado antenado com as questões nacionais, o que o senhor espera da eleição presidencial?
SH: A tendência é uma eleição com caráter plebiscitário. As opções são: continuar o projeto do presidente Lula, avançar mais ainda, ou não. É o campo de quem quer continuar contra os que querem fazer diferente. Acho muito cedo para fazer projeções de resultados.
Tudo isso muda muito, é só vermos as eleições no Rio Grande do Norte. Garibaldi, em julho de 2006, tinha mais de 60% dos votos e era o "governador de férias", mas perdeu. Nesse momento não se deve ter preocupação com pesquisas. No quadro nacional o que teremos será isso mesmo, uma disputa plebiscitária.
Nominuto: O trabalho da pré-campanha do PCdoB já começou? Como está essa discussão?
SH - O PCdoB no RN é pequeno, mas bastante aguerrido. Já estamos em contato com as bases para, neste mês, começar a percorrer o estado e trabalhar para conseguirmos formar uma grande aliança com os partidos que estão na mesma linha que a nossa.Sávio Hackradt: Eu sou natalense, nasci na Rua Trairi, quase na subida do Morro de Mãe Luiza. Morei ali até os 25 anos. Saí de lá quando casei com Dodora Guedes, jornalista e mãe de nossos três filhos. Passei minha infância em Petrópolis. Fiz o primeiro e o segundo ano primário no antigo Colégio 7 de Setembro, que hoje nem existe mais.
Depois fiz o terceiro ano primário no Colégio Marista. De lá saí para a UFRN. Fiz meu primeiro vestibular e passei em Estatística, mas só aguentei três ou quatro meses. No ano seguinte eu fiz Jornalismo, e me formei em 1980. Na UFRN eu me encontro com o PCdoB, através de Glênio Sá [estudante, principal dirigente do partido no RN naqule momento], que tinha acabado de sair da prisão e tinha sofrido muito com a tortura.
Com Glênio, a gente começa a construir o partido. Já na universidade eu fui liderança estudantil, liderei greves, movimentos, passeatas; era plena ditadura naquela época. Então, eu estava na frente dos principais movimentos estudantis da UFRN. Eu já estava na atividade política ali com o PCdoB. O partido era clandestino. A gente passou a atuar nos sindicatos rurais, sindicatos urbanos e fazer política, lutar contra a ditadura, fazer o movimento pela anistia.
Fundamos aqui o Conselho de Direitos Humanos e o Movimento de Mulheres. Tudo isso é da nossa época. Paralelo a isso, já no primeiro ano de faculdade, eu começo a trabalhar no jornalismo na TVU. Depois, no Diário de Natal e, em seguida, sou convidado para a TV Globo Nordeste. Termino meu curso em 1980, mas já em 1978 eu tinha participado da campanha de Radir Pereira ao Senado. Era Radir Pereira (MDB) contra Jessé Freire (Arena), na época da "paz pública".
Em 1982 eu participo já profissionalmente da campanha de Aluízio Alves (PMDB) para o governo contra José Agripino (PDS). Foi a maior derrota da história de Aluízio. Naquela época o voto era vinculado. Fui o primeiro repórter da TV Globo no RN. Aqui só tinha TVU. Canal privado não tinha. Na verdade a implantação da TV privada no RN começa comigo. Depois eu saio e vou para Brasília.
Nominuto: Você foi para Brasília em que ano?
SH: Eu fui morar em Brasília em 1985, que é o ano do início da Nova República. Fui convidado por Aluízio Alves para ser assessor de imprensa no Ministério da Administração do governo Tancredo-Sarney. Quando eu cheguei, Tancredo estava naquela agonia. Sarney assumiu, mas Tancredo ainda estava hospitalizado e só morreu em abril.
Eu vivi um momento fundamental da história política do Brasil. Era a redemocratização do Brasil. Eu estava lá e era a pessoa do ministro. Assisti, presenciei os bastidores, porque aí, como assessor de ministro, a gente circulava dentro dos Ministérios, Palácio do Planalto e Congresso Nacional. Eu convivi muito perto da política nacional, ao lado de um craque da política do RN que era Aluízio Alves. Aprendi muito. Em 1985, vem a primeira eleição direta para prefeito da capital.
Eu vim aqui para ajudar na eleição de Garibaldi contra Wilma. Em 1986, tem eleição direta para governador, já com Geraldo Melo. Eu sou o cara que faço o horário eleitoral de Geraldo Melo, apresentando, fazendo matérias, eu sou o cara que ponho a cara na televisão pelo PMDB. Você veja que a minha vida está sempre ligada à política, desde a universidade. Eu fui também presidente do sindicato, fundei a cooperativa dos jornalistas, sempre tive no meio, sempre disputando voto e ganhando.
Na cooperativa a gente tinha um jornal chamado "Salário Mínimo", que era o único jornal combativo. Todos os outros eram comprometidos. Você tinha a Tribuna do Norte dos Alves, que se não tivesse no governo estaria fazendo oposição. Não tinha jornal independente. Carlos Eduardo Lins e Silva, que virou ombudsman da Folha de São Paulo, foi um dos fundadores do jornal.
Na época ele morava aqui, porque estava ensinando na universidade. Então, o jornal tinha uma combatividade muito grande em Natal. Isso tudo aí, a gente vai caminhando na política. Depois que Geraldo Melo ganha, eu volto para Brasília. Aí vem a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que é o grande momento da vida política nacional. Nós chegamos aqui, mas antes teve a ANC.
Nessa época eu deixei o Ministério da Administração e fui ser repórter da TV Record de São Paulo, que não era da Igreja Universal do Reino de Deus naquela época; era da família Paulo Machado de Carvalho. A TV Cabugi estava começando aqui também. Por isso eu fazia matérias para ela. Então, eu convivi de 1987 até 1988, quando foi promulgada a Constituição, com os maiores ídolos políticos do Brasil todos os dias, todas as semanas.
Eles frequentavam minha casa. Isso me deu uma bagagem de conhecimento político nacional, sobre o funcionamento da Câmara e do Congresso, muito grande. Entre os que frequentavam minha casa, tinha o doutor Ulisses Guimarães, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, por exemplo.
Nominuto: Como nasceu a candidatura logo ao Senado e pelo PCdoB?
SH: A política é uma coisa que corre nas minhas veias. Eu tenho prazer em fazer a política. Então, já convivi em todo tipo de campanha. Por que não ao Senado? Antes de perguntar por que ao Senado, é preciso perguntar por que não ao Senado. Você veja o seguinte: o senador José Agripino começou a carreira política dele logo nomeado prefeito de Natal.
Se ele pode isso, por que um cidadão não pode [se candidatar]? Eu, como qualquer outro cidadão, tenho direito. Eu tenho conhecimento da política, conheço a política do Rio Grande do Norte. Apesar de eu ter ido morar fora, profissionalmente, politicamente, eu nunca saí daqui.
Nominuto: Você voltou em que ano para Natal?
SH: Eu voltei agora. Eu nunca saí daqui porque nunca mudei meu título eleitoral. A minha residência eleitoral sempre foi em Natal. A cada dois anos, eu venho e voto ali no colégio Atheneu.
Nominuto: Qual a motivação para encarar essa candidatura?
SH : O Rio Grande do Norte precisa de alguém que desafie o status quo político. O Rio Grande do Norte precisa de um novo caminho na política. Não é possível que somente esses que estão aí há quase 40 anos no poder, se revezando de cadeira, continuem do mesmo jeito. É preciso modificar isso, é preciso alguém ousar.
O PCdoB entendeu que chegou a hora de ousar. O partido me convidou e eu aceitei o desafio, porque a briga é com gente grande. É ótimo enfrentar grandes desafios. A minha vida foi de enfrentar grandes desafios. Por que não enfrentar três ex-governadores? São duas vagas. Eu preciso de um voto, não preciso de dois.
Nominuto: Com relação às vagas, o PCdoB está na base da governadora Wilma e do presidente Lula. Como o partido está discutindo essa questão das alianças?
SH: O partido está acertado com o seguinte: primeira coisa, o partido está alinhado nacionalmente com o projeto do presidente Lula. O nosso campo político é o campo do presidente Lula. Estamos lá dentro desse campo. Descendo, nós vamos fazer aliança com partidos que estejam nesse campo. Portanto, nós não fazemos aliança com o DEM nem com o PSDB.
As questões locais terão que ser definidas dentro das circunstâncias locais, em cada estado, inclusive no RN. O PCdoB está apresentando a minha candidatura para compor uma das vagas ao Senado. Se nós vamos estar compostos com [a governadora] Wilma de Faria ou não, nesse momento nós não sabemos.
Por exemplo, se o PSB tiver candidato a presidente com [o deputado federal] Ciro Gomes, nós não vamos estar com ele. Vamos estar com [a ministra da Casa Civil] Dilma Rousseff. Então, Wilma vai sair num campo e nós vamos sair em outro aqui.
Nominuto: No arco de alianças da governadora e do PSB, se, por exemplo, entrar outro nome, como o deputado federal João Maia do PR...
SH: Nós não saímos [juntos]. Nós achamos que o campo progressista, popular e democrático do RN tem que ter alguém na disputa majoritária. Não é possível ficar só os conservadores. Nós respeitamos todos eles, João Maia, Iberê, Robinson, todos eles, sem problemas. Agora, nós achamos que esse campo das forças populares e democráticas precisa ter alguém na disputa majoritária.
Nominuto: Se não houver espaço na composição majoritária para as forças de esquerda...
SH: Nós vamos sair. Se o centro do conservadorismo fechar todos os espaços, nós não sairemos juntos. Não é possível isso.
Nominuto: Qual seria a alternativa da esquerda?
SH : Nós vamos apoiar Dilma e o candidato a governador desse campo. [O ex-prefeito de Natal] Carlos Eduardo (PDT) é um dos nomes que está posto. O PCdoB acha que Carlos Eduardo tem que estar nessa discussão majoritária. Ele não pode simplesmente ser descartado.
O vice-governador [Iberê Ferreira de Souza] tem todo o direito de ser o candidato do PSB. Qualquer um que estivesse na cadeira dele seria um candidato. Agora, para se chegar ao governo é preciso conversar sobre isso aí. Para conversar, tem que estar na mesa também a candidatura de Carlos Eduardo.
Nominuto: O senhor não teme o rolo compressor da governadora Wilma de Faria passe por cima e o deixe sozinho nesse pleito rumo ao Senado?
SH: Não, primeiro porque essa é uma decisão do partido aqui e nacionalmente. Nós tivemos uma reunião de mais de três horas, em Brasília, com a direção nacional do partido, onde foi colocada a importância e a prioridade da minha candidatura aqui no Rio Grande do Norte. Isso não é um desejo meu.
Não é o desejo apenas de alguém do PCdoB. É um desejo partidário nacional de que eu seja candidato. Evidente que está na mesa com apoio da direção nacional e estadual. Se alguém não quiser, vai ter que me vetar e dizer por que eu não posso ser candidato.
Nominuto: Em caso de veto à sua candidatura, o senhor disputaria outro cargo?
SH: Não está em nosso horizonte. Nunca discutimos isso.
Nominuto: O senhor acompanha intensamente o cenário político em Brasília e, principalmente, no Congresso Nacional. Qual é o perfil de senador que o parlamento necessita atualmente?
SH: No Senado, criaram essa fantasia de que para ser senador precisava ser governador, precisava ter esse status porque daria mais credibilidade. Então Lula nunca seria presidente. Ele nunca poderia ser candidato.
Se ele foi candidato a presidente da República e não foi governador, por que eu não posso ser senador? O que precisamos é acabar com essas fantasias de que só eles que estão no poder podem ser senadores. Precisamos de um discurso moderno, antenado com o mundo. O mundo mudou e todos têm que ver isso.
Por que o Rio Grande do Norte não vai mudar? Vai permanecer com as mesmas pessoas que estão no poder há quarenta anos? Precisamos de sangue novo, novas ideias conectadas com o mundo, não apenas a questões paroquiais.
Nominuto: Como o marqueteiro Sávio Hackradt pensa em convencer a população sobre essa necessidade de mudança?
SH: Na campanha eu não vou ser o marqueteiro. Vamos ter o marqueteiro (risos). Mas acho que a mudança está posta na sociedade. A população pode até não ter a visão que achamos que temos, pode não ter a elaboração discursiva como a dos políticos, como a minha. Mas a população quer mudar isso que está aí, que está vendo que não está dando certo.
O que é que o Rio Grande do Norte avançou nesses 40 anos, com essa elite? O nosso estado não tem capacidade de investimento. Depende inteiramente de dinheiro dos programas do governo federal e dos empréstimos. Todos os meus adversários passaram por todas as instâncias do governo. É preciso dar um novo caminho. O nosso partido quer dar essa alternativa. É preciso mudar.
Lula foi a mudança para o país, mesmo que muitos não acreditassem. Hoje ele está aí e fez o papel dele. É preciso que tenhamos aqui no estado uma representação fiel da população. Será que a população atualmente se sente representada pelos nossos senadores?
Nominuto: Como o senhor avalia o trabalho desenvolvido pelos senadores José Agripino (DEM) e Garibaldi Filho (PMDB)?
SH - É um trabalho comum aos outros senadores, a mesma coisa. Se retroagirmos aos outros senadores, o que tem de novo?
Nominuto: Garibaldi foi presidente do Senado e Agripino é líder de oposição...
SH: E o que nós avançamos com isso? Houve alguma perspectiva de mudanças? O que Garibaldi fez como presidente do Senado? José Agripino vai completando 24 anos de mandato, mas o que ele faz lá? Oposição raivosa a Lula. É só esse o papel de um senador? Ficar discutindo emendinhas de Orçamento, que não se concretizam, porque todo mundo sabe que é uma ficção?
Nominuto: Qual seria, em sua opinião, o papel de um senador?
SH: Mudar o que está ocorrendo, cobrar que esse Orçamento seja real, impositivo. Ficando desse modo inerte, o que é que se resolve? O Brasil quer um Senado conectado com o mundo. O Senado representa a Federação. Então, as questões do Brasil que precisam ser discutidas não são as questões paroquiais.
O Brasil chegou ao patamar de protagonista das grandes discussões e negociações do mundo. Os nossos senadores precisam estar preparados para isso, discutir o novo mundo que está aí. Se o estado não entrar nisso, vai ficar fora da discussão. Vai ficar preocupado aqui com acordos políticos e "carguinhos".
Nominuto: O senhor não aparece em pesquisas eleitorais e os três principais candidatos, Wilma, Agripino e Garibaldi, disputam entre si a preferência da população neste momento. Como o senhor vai fazer para mudar esse quadro?
SH: Aí eu falo com a experiência das campanhas políticas que já fiz. O processo só começa a se elaborar na cabeça do eleitor a partir de agosto, quando começar a propaganda política na TV. Por enquanto, tem muito "blá, blá, blá". Eu estou chegando agora. Os outros estão aí há quarenta anos, mas não tem nenhum deles seguro. Todos estão com medo da eleição.
Esse processo é lento, é acumulativo, é de convencimento do povo. Vou me apresentar com uma ética, comprometido com os movimentos populares. Vou fazer uma campanha dentro da legislação, sem fugir um milímetro, dentro dos padrões éticos. Vou enfrentar todos no discurso, no campo político. Vamos para o embate. Vou argumentar e contra-argumentar. Eu tenho o que debater.
Querem falar sobre as grandes questões internacionais que o Brasil está inserido? Então vamos debater. Querem debater sobre as questões do Brasil? Vamos debater. Vamos falar sobre como colocar o Rio Grande do Norte no novo caminho que está sendo construído. Ninguém discute isso, mas eu vou cobrar essa discussão.
Nominuto: Como candidato ao Senado antenado com as questões nacionais, o que o senhor espera da eleição presidencial?
SH: A tendência é uma eleição com caráter plebiscitário. As opções são: continuar o projeto do presidente Lula, avançar mais ainda, ou não. É o campo de quem quer continuar contra os que querem fazer diferente. Acho muito cedo para fazer projeções de resultados.
Tudo isso muda muito, é só vermos as eleições no Rio Grande do Norte. Garibaldi, em julho de 2006, tinha mais de 60% dos votos e era o "governador de férias", mas perdeu. Nesse momento não se deve ter preocupação com pesquisas. No quadro nacional o que teremos será isso mesmo, uma disputa plebiscitária.
Nominuto: O trabalho da pré-campanha do PCdoB já começou? Como está essa discussão?
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