Seria impossível contar o número de mensagens que recebemos em que as mulheres se queixam de que os homens simplesmente “desaparecem”, seja após um ou alguns contatos via Internet ou mesmo após encontros. O “sumiço” dos homens já foi inclusive tema de um artigo publicado há meses, em que eu me dispus a difícil empreitada de tentar entender um pouco este misterioso comportamento masculino. Acontece que, ultimamente, venho recebendo algumas mensagens que têm me intrigado bastante. Tratam-se de mensagens escritas por homens que reclamam que as mulheres... Desaparecem sem dizer nada! A diferença para as situações relatadas pelas mulheres é que, nos casos que os homens mencionam, não chegou a haver um encontro face a face. O que houve foi um contato ou tentativa de contato pelo site, por parte deles, que simplesmente não teve a resposta delas. Alguns desses homens dizem que foram elas quem iniciaram o contato e que, mesmo sem responder, estas mesmas mulheres continuam vendo os perfis deles.
Se o “sumiço” masculino me deixava intrigada, o feminino parece ter, pelo contrário, tornado o cerne da questão um pouco mais evidente. O que parece estar acontecendo é que muitos homens e mulheres estão tendo dificuldades em dizer “não”. Por causa desta dificuldade, em vez de serem claros quando não desejam mais falar ou encontrar o outro, preferem sair “à francesa”, sem dizer nada. No lugar do “não”, deixam uma série de interrogações naquele que não tem como entender as razões do desaparecimento.
A dificuldade em dizer “não” é facilmente compreendida quando a entendemos como uma projeção do que a própria pessoa sente. Deixe-me explicar o que quero dizer com isto. Ninguém gosta de ser rejeitado, isso é um fato. É desagradável, deixa qualquer um triste, desapontado, chateado. Para alguns, no entanto, o desgosto pela rejeição ganha contornos exagerados. Ao serem rejeitadas, estas pessoas experimentam a sensação de serem os piores seres do mundo, desinteressantes, pouco atraentes e sem valor. É como se a rejeição fizesse, como na canção de Maysa, o próprio mundo cair.
Estas mesmas pessoas, como todo mundo, ora estão na posição de serem rejeitadas, ora estão na posição de rejeitarem o outro. Quando estão nesta segunda posição, têm a sensação de que a rejeição será vivenciada, pelo outro, da mesma maneira como elas próprias vivenciam ser rejeitadas. Assim, se elas se sentem as piores pessoas do mundo, imaginam que o outro também se sentirá assim. É natural, então, que aqueles que se abalam mais com as rejeições tenham mais dificuldades em rejeitar, justamente para não se verem nessa posição de “carrascos” de alguém.
A projeção é exatamente isso: como eu não consigo ouvir “não”, acabo acreditando que o outro também terá essa dificuldade. A realidade, no entanto, não é bem assim. Como já dissemos, nem todo mundo lida com as rejeições da mesma forma, embora ninguém fique satisfeito ouvindo um “não” na hora da paquera. Por esta razão, minha primeira sugestão é lembrar que o modo como as pessoas escutam um “não” pode variar bastante, e a rejeição pode ser experimentada de maneira bem diferente da sua.
Àqueles que se sentem muito desconfortáveis em rejeitar, pergunto: o que é pior para o outro, ouvir um “não” ou não ouvir nada e, consequentemente, não entender nada do que se passou? O que é pior, um objetivo “não” ou um silêncio que pode dar margem a uma série de ideias quase sempre tristes e auto-depreciativas? Estou certa de que a maioria daqueles que nos escrevem queixando-se do sumiço ou da ausência de respostas prefeririam, nos dois casos, a primeira opção. Embora possa parecer mais “sutil” que um sonoro “não”, o silêncio é uma forma ainda pior de rejeição.
O que fazer, então, se você não quiser mais encontrar alguém ou não quiser mais continuar conversando online com essa pessoa? Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que sentir isso é absolutamente normal e não te torna um carrasco ou alguém mau. Mesmo não sendo agradável ouvir um “não”, há maneiras melhores de se dizer isso ao outro. O fundamental, independentemente do modo como isso será feito, é ser educado sempre. O simples fato de não desaparecer e fazer questão de dizer alguma coisa já é uma forma de ser delicado com o outro, pois mostra consideração com ele. Expor a própria dificuldade em rejeitar pode ser interessante, pois você mostra que se preocupa com os sentimentos da outra pessoa, embora esteja dizendo “não”. Quanto ao quê, exatamente, dizer, isso depende da criatividade e do estilo de cada um. Há pessoas que são mais diretas e explicam exatamente a razão para não quererem mais o outro, enquanto há aquelas que preferem usar determinados subterfúgios para evitar dizer objetivamente o que se passou. Em todos os casos, é melhor dizer alguma coisa do que não dizer nada.
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