terça-feira, 5 de abril de 2011

Residência universitária está à venda

Ellen Dias
Da Redação/Jornal De Fato

Alunas das residências universitárias I e II reclamam das condições de vida no local e temem o destino que terão de tomar nos próximos dias, já que a casa em que moram está à venda. 

Cursar uma faculdade hoje em dia pode parecer algo fácil, comparando-se com as dificuldades de alguns anos trás. Porém, para algumas pessoas, entrar num curso superior ainda é um desafio, e muitas vezes a maior dificuldade não é nem tanto ingressar na universidade; é ter condições de cursá-la. Mesmo para quem consegue uma vaga em uma universidade pública, apesar de não ter despesa com mensalidade, as dificuldades ainda existem. 

Para estudantes que moram em pequenas cidades onde não há universidades ou a disponibilidade de cursos é baixa e precisam se arriscar a sair de suas casas para tentarem a vida em outra cidade para realizar o sonho de cursar uma faculdade traz consigo muitos problemas.

A principal preocupação dessas pessoas é arrumar um lugar para morar. Para isso, as universidades oferecem as residências universitárias, onde estudantes de baixa renda podem morar enquanto estiverem cursando a faculdade. 

Ter um lar já seria uma preocupação a menos. Mas será que a maioria das pessoas sabe em que condições vivem esses jovens? 

As alunas das residências universitárias femininas I e II da Universidade do Estado do rio Grande do Norte (UERN) estão reclamando das condições de vida a que estão expostas, segundo depoimentos, e como a equipe de reportagem pôde constatar, as duas casas estão em estado de péssima conservação.

Vazamento, segurança, infiltração e falta de auxílio nas despesas são algumas das dificuldades que as estudantes enfrentam diariamente. 

Na residência I, 37 garotas dividem o espaço, em quartos superlotados. A reclamação do grupo é que estaria faltando gás na casa desde a última sexta-feira. Sem ter como cozinhar em casa, as meninas tentam se virar. "Quem pode sai para almoçar na rua, quem não pode come bolacha", diz a estudante do 4° período do curso de Pedagogia Natália da Silva.

Outra preocupação das meninas diz respeito à sala de estudos. Na residência I, as estudantes se reuniram e colocaram um sistema de internet, que agora está ameaçado por causa das goteiras e da grande quantidade de água que se acumula no local quando chove. 

Já, na residência II, o problema é a própria sala de estudos. A casa não oferece um local apropriado e as garotas improvisaram um espaço em pequeno quarto dos fundos que não pode ser utilizado à noite porque as portas e janelas estão quebradas. 

Além disso, as jovens também relatam que nas duas casas, por serem antigas, a presença de ratos e baratas é constante, e que já utilizaram inseticida, mão não resolveu o problema.

VENDA

Entretanto, a maior preocupação das estudantes que moram na residência I é relacionada a uma placa com anúncio de venda do imóvel que foi colocada há cerca de duas semanas. As jovens estão preocupadas por não saberem para onde serão mandadas e também por não quererem sair do local: "A gente quer ficar aqui porque é melhor, já temos despesas com alimentação, e se sairmos para outro ponto teremos que gastar também com transporte. Aqui é melhor porque é fácil de pegar carona para a faculdade porque é no Centro. A gente não quer sair daqui; a gente quer o apoio da Uern. A universidade tem que ter responsabilidade com a gente, são meninas de famílias pobres que moram aqui", reclamou a estudante do sétimo período do curso de Filosofia Jeiza Francisca Antonia da Silva.

Prédio é alugado e Uern não pode impedir venda
 
Para esclarecer todos esses problemas, a equipe de reportagem do DE FATO procurou o Departamento de Assuntos Estudantis da Uern (DAE). A primeira informação sobre o caso veio do secretário do departamento, Agenor Júnior, que, a respeito da venda da casa, disse que "a casa é alugada, o dono pediu e já está se vendo uma nova casa, até mais próxima do campus".

Entretanto, as explicações mesmo foram dadas pela diretora do DAE, professora Kelânia Freire.

Sobre os problemas com manutenção, Kelânia admite que as dificuldades existem em todas as residências universitárias da Uern, inclusive nas residências masculinas. O maior problema, segundo ela, é que as casas são antigas e, com isso, trazem todos esses problemas.

Com relação à compra dos colchões que foram prometidos às estudantes, a diretora disse que o assunto deve ser resolvido a partir deste mês, quando a universidade liberar o orçamento e puder fazer uma licitação. 

Em relação à venda da casa, Kelânia confirmou a informação dada pelo secretário e disse que já está vendo outras possibilidades, inclusive a de mudar as meninas para um imóvel próximo ao campus, mas que o problema seria a resistência das estudantes em quererem permanecer no centro da cidade.

"O imóvel não é da Uern e não podemos impedir que seja vendido", declarou a diretora do DAE. 

Sobre a possibilidade de se construir uma vila universitária dentro da universidade, a diretora disse que o projeto existe, mas a execução não depende somente da Uern: "É preciso dinheiro para isso. Essa questão depende mais do Governo do Estado."

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