quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Alianças no Congresso indicam dura briga por cargos e troca-troca em 2011

Os novos congressistas nem sequer tomaram posse, mas os partidos políticos já se articulam para formar blocos em busca de influência no governo da presidente eleita Dilma Rousseff. Para especialistas ouvidos pelo UOL Notícias, isso indica também que legendas podem se fundir ou, ao menos, mudarem de cara no ano que vem.

A composição de blocos parlamentares se dá principalmente para impulsionar as demandas dos partidos por cargos no governo, dizem os analistas. Após as eleições, o PT obteve a maior bancada na Câmara e o PMDB, no Senado. Para fazer frente aos aliados, siglas de centro e outras de esquerdistas já se articulam.

As negociações de um bloco centrista são feitas por PR, PP e PTB. Juntos, eles teriam mais de cem deputados – levando-se em conta a possibilidade de mudança de eleitos. Reservadamente, membros dos partidos admitem, inclusive, a chance de fusões e surgimento de novas entidades.

Com pouco mais de 80 deputados, está a provável associação de PSB, PDT, PCdoB e PRB. Aliados de primeira hora da sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eles querem ampliar seu espaço no ministério, embora tenham pouca força no Senado – onde Dilma deve ter menos dificuldades do que o atual mandatário.

“As sementes para reforma política são plantadas sempre que os partidos se movimentam na formação de blocos”, disse o cientista político Gaudêncio Torquato, da USP (Universidade e São Paulo). “O modelo partidário está esgotado. Os pequenos percebem que não terão vez e procuram os grandes para governar. É inexorável.”

O cientista político diz que a sinalização dos partidos aponta para a criação de uma janela para trocas partidárias em 2011, para permitir a migração sem infringir a legislação eleitoral – que veda trocas sem motivação específica. “Com tanta movimentação e base governista forte, é uma questão de vontade”, diz.

Arbitragem

O PMDB espera ter pelo menos seis ministérios no governo Dilma – mesmo número que ocupa sob Lula. O PT comanda 17 pastas. O PP, que não deu apoio formal à petista no primeiro turno das eleições, e o PTB, ex-aliado do presidenciável derrotado José Serra (PSDB), também querem espaço no ministério.

O PSB, que elegeu seis governadores neste ano, já se vê em “novo patamar”, como disse o presidente da sigla, Eduardo Campos, depois de ocupar dois ministérios de menos peso na gestão Lula. PCdoB, PR e PDT, que tinham uma pasta cada, também querem ver sua influência aumentar em Brasília.

A presidente eleita já demonstrou estar atenta à movimentação dos partidos e designou dois articuladores políticos para o período em que estará fora do Brasil: o vice, Michel Temer (PMDB), e o presidente do PT, José Eduardo Dutra. A queda de braço entre os aliados, no fim, será arbitrada por ela.

“No próximo governo, assim como no de Fernando Henrique Cardoso, o conflito será entre aliados”, diz Alberto Carlos Almeida, cientista político e diretor do instituto Análise. “A disputa principal é por cargos e pela eleição de presidentes da Câmara e do Senado. A eventual formação de novos partidos é para depois.”

Para ele, a formação dos blocos indica o apetite dos aliados por cargos no governo. Somando a isso o tamanho das bancadas de PT e PMDB, a expectativa dos especialistas é de que Dilma não ficará refém de nenhum desses partidos. “Quando você tem voracidade de todos os lados ela acaba se controlando. Se a tendência se confirmar, a presidente tem como mediar”, afirmou.

O novo Congresso toma posse em fevereiro, um mês depois de Dilma, e verá os governistas com apoio suficiente para promover mudanças constitucionais importantes. A oposição, composta por PSDB, DEM e PPS e sem contar revoltosos das legendas aliadas, soma pouco mais de 100 deputados.

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