quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O evangelho de Judas

Um texto perdido durante 1,7 mil anos revela: Judas não traiu Cristo

 
Com um ligeiro tremor nas mãos, causado pela doença de Parkinson, o professor Rodolphe Kasser pegou o texto antigo e começou a ler com voz firme e clara: "Pe-di-ah-kawn-aus ente plah-nay". Essas palavras estranhas eram em copta, a língua falada no Egito no alvorecer do cristianismo. Não eram ouvidas desde que a Igreja nascente declarara o documento proibido aos cristãos.

Esta cópia, não se sabe como, sobreviveu. Escondida por uma eternidade no deserto egípcio, finalmente foi descoberta no fim do século 20, para depois novamente desaparecer no submundo dos negociantes de antiguidades. Quando chegou às mãos de Kasser, o papiro - um tipo de papel feito de plantas aquáticas desidratadas - estava se desfazendo, com sua mensagem prestes a ser perdida para sempre.

O erudito professor de 78 anos, um dos maiores especialistas mundiais em copta, terminou de ler e cuidadosamente pôs a página de volta na mesa. "Bela língua, não? Egípcio escrito em caracteres gregos. Sorriu. "Esta é uma passagem em que Jesus explica aos discípulos que eles estão no caminho errado.” Maravilhara-se com o texto, e não era para menos. Na primeira linha da página inicial está escrito: "O relato secreto da revelação feita por Jesus em conversa com Judas Iscariotes [...]”.

Após quase 2 mil anos, o homem mais odiado da história está de volta.

Todos se lembram do grande amigo de Jesus Cristo, um dos Doze Apóstolos, que o vendeu por 30 moedas de prata, identificando-o com um beijo. Depois, enlouquecido de remorso, Judas se enforcou. Ainda hoje, ele é o símbolo supremo da traição. Nos abatedouros, o bode que conduz os outros animais ao abate é chamado de Judas. Na Alemanha, autoridades podem proibir os pais de dar o nome Judas a um recém-nascido. Na Igreja Suspensa, um templo cóptico na Cidade Velha do Cairo, os guias apontam uma coluna negra na colunata branca da igreja - Judas, é claro, O cristianismo não seria o mesmo sem o seu traidor.

Um contexto sinistro permeia as descrições tradicionais de Judas. À medida que o cristianismo desvinculou-se de suas origens como uma seita judaica, os pensadores cristãos foram julgando cada vez mais conveniente culpar os judeus, como povo, pela prisão e execução de Cristo, e assim pintar Judas como o judeu arquetípico. Os quatro evangelhos, por exemplo, tratam com brandura o governador romano Pôncio Pilatos, mas, condenam Judas e os altos sacerdotes judeus.

O manuscrito secreto mostra-nos um Judas muito diferente. Ele é um herói. Ao contrário dos outros discípulos, realmente compreende a mensagem de Cristo. Quando entrega Jesus às autoridades, está fazendo o que seu mestre pediu, sabendo o destino que irá acarretar para si mesmo. Jesus o avisa: "Serás amaldiçoado'”.

A mensagem é chocante o suficiente para despertar suspeitas de fraude, coisa comum em se tratando de artefatos que se dizem bíblicos. Foi o caso de uma caixa vazia de calcário que supostamente continha os ossos de Tiago, irmão de Jesus. Ela atraiu multidões quando foi exibida em 2002, mas logo se revelou uma engenhosa falsificação.

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